
No esporte, há uma expressão que se repete como um mantra: “estou pronto”. Ela surge antes das estreias, das finais, das convocações, dos desafios decisivos. É dita com convicção, como se prontidão fosse uma linha de chegada, um estado alcançável depois de um certo número de treinos, experiências ou conquistas. Mas talvez “estar pronto” não seja isso. Talvez nunca tenha sido.
A ideia de estar pronto pressupõe controle, e o esporte, mais do que qualquer outro território humano, nos lembra o tempo todo que controle é ilusão. Podemos treinar todos os gestos, estudar cada adversário, prever cenários e resultados, e ainda assim o jogo virá com um detalhe que não estava no planejamento. O inesperado é parte da regra. E é por isso que, paradoxalmente, estar pronto talvez signifique justamente o contrário do que imaginamos: não estar completamente preparado, mas disposto a seguir mesmo assim.
A prontidão verdadeira não nasce do acúmulo, mas da entrega. Não está no ponto final da preparação, mas no instante em que o atleta entende que nunca haverá ponto final algum. Estar pronto é aceitar que a condição de preparo absoluto é um mito, e que o real domínio vem da capacidade de responder ao que não se domina.
Há quem confunda estar pronto com não errar mais. Mas o erro é, muitas vezes, o próprio portal do amadurecimento. Um atleta que só compete quando sente que domina tudo, na prática, não compete: se protege. É no jogo que o corpo aprende a ajustar, o cérebro a antecipar e a alma a suportar. Ninguém se aperfeiçoa antes do movimento, é o movimento que aperfeiçoa.
Mas o maior equívoco sobre “estar pronto” talvez esteja na forma como entendemos essa expressão. Muitos acreditam que ela descreve um estágio técnico, um domínio completo de si e da situação. Quando, na verdade, ela fala de outra coisa: de um estado de espírito. Estar pronto é uma escolha, não uma conquista. É uma decisão íntima de se colocar à disposição do desconhecido, mesmo sem garantias. É um gesto de coragem e humildade ao mesmo tempo, coragem para ir, e humildade para aprender enquanto vai.
O atleta que entende isso descobre que a prontidão não depende de condições ideais. Ela nasce no meio da imperfeição, das limitações e das dúvidas. Estar pronto não é esperar o momento perfeito, é compreender que o momento perfeito é aquele que chega, e você decide enfrentá-lo com o que tem, com o que é.
Estar pronto, então, não é o resultado de um treinamento concluído, mas o reflexo de uma consciência desperta. É reconhecer que o jogo não exige perfeição, exige presença. E presença não se prepara: se assume.
Quando alguém diz “estou pronto”, o que realmente importa não é o que ela já sabe, mas o que ela aceita ainda não saber. Porque o que define o crescimento não é o que se domina, mas a forma como se enfrenta o indomável. E no esporte, como na vida, tudo o que realmente vale a pena é indomável.
Estar pronto, portanto, não é chegar. É seguir. É entrar em campo sem garantias, com o coração disposto e a mente desperta. É entender que o jogo mais importante é sempre aquele que ainda não começou. E talvez a maior prova de que alguém está pronto seja justamente essa: não ter certeza alguma, mas ainda assim estar disposto a enfrentar.
No fundo, todo processo formativo, seja de um atleta, um treinador ou um ser humano, é um convite para aprender a estar pronto sem nunca estar acabado, completo. Porque educar, treinar e evoluir não é conduzir alguém à perfeição, mas ajudá-lo a sustentar-se no movimento, mesmo quando o chão parece instável. O verdadeiro preparo não é o que elimina o medo, é o que permite agir apesar dele. E talvez seja isso que o esporte ensine melhor do que qualquer teoria: ninguém se torna pronto para viver, é a vida que nos treina, enquanto seguimos jogando.
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