
Há uma crença perigosa no esporte que se repete em todas as modalidades: a ideia de que quanto mais o atleta treina, mais ele “merece” vencer. Treinar muito sempre foi sinônimo de comprometimento, de sacrifício, de virtude, e embora o treino seja essencial, porque é nele que se constrói a base física, técnica e cognitiva, ele é apenas isso: uma base. Treinar é o que dá o direito de estar preparado, não necessariamente o direito de vencer.
Muitos atletas confundem preparo com prontidão. Treinam com intensidade, cumprem todas as planilhas, mas chegam à competição sem conseguir traduzir o que fizeram no treino em performance. Acreditam que o volume de treino garante reconhecimento, quando na verdade o que convence é a capacidade de, na hora certa, demonstrar confiança, controle e atitude. O treinador não escala quem treina mais. Ele escala quem transmite segurança. E segurança não se constrói apenas com repetições, mas com consciência.
Treinar é o terreno do previsível, a competição é o território do incerto. No treino, o erro é permitido, na competição, o erro tem consequência. Por isso, o atleta que só se apoia na quantidade de treinos dificilmente se sustenta quando a situação muda. O treino condiociona o corpo; a competição revela a mente. É nela que se manifesta a autoconfiança, a resiliência, a capacidade de decisão sob pressão. E esses fatores não aparecem por acaso. Eles se treinam também, com reflexão, com intenção, com propósito.
Treinar é obrigação, é parte do ofício. O que diferencia o atleta de alta performance não é somente o quanto ele treina, mas, principalmente, o que ele faz com o treino. É a qualidade da atenção, a clareza de propósito e o modo como ele se comporta diante da dificuldade. Muitos acreditam que o treinador “não dá oportunidade”, mas o que o treinador observa é comportamento. Ele nota quem está presente, quem comunica estabilidade, quem reage bem ao erro e quem demonstra mentalidade competitiva. O atleta que apenas “treina bem” mostra esforço; o que transmite confiança mostra prontidão.
É preciso compreender que o treino prepara o corpo, mas é o comportamento que sustenta a credibilidade. O atleta que deseja evoluir deve aprender a treinar de forma consciente, avaliando cada repetição como uma oportunidade de aprimorar decisão, foco e atitude. Deve entender que o treino não é uma vitrine, é um laboratório. E que a vitrine é o jogo, a luta, a competição, onde nessa hora, o olhar, o gesto e a postura dizem mais do que qualquer estatística.
A maturidade competitiva nasce quando o atleta deixa de buscar merecimento e passa a buscar competência. Ele entende que o resultado é consequência de comportamento, não de esforço isolado. E que o treino, por melhor que seja, não substitui a coragem de agir quando a pressão se instala.
Treinar é a base do caminho, mas é só o começo. O que realmente define um atleta é o que ele faz quando o treino termina , e a competição começa.
Quando o atleta entende isso, ele muda a forma de treinar. Passa a usar cada exercício como um ensaio mental, cada erro como uma oportunidade de ajustar decisões, cada treino como um espaço para fortalecer a confiança e o senso de presença. Ele percebe que o verdadeiro objetivo do treino não é apenas preparar o corpo, mas educar a mente para o momento em que o corpo vai hesitar. E, nesse ponto, o treino deixa de ser uma rotina e passa a ser uma estratégia.
Porque, no fim, o que convence não é o esforço visível, mas o comportamento silencioso. Aquele que mostra consistência, maturidade e atitude quando ninguém está olhando. E é esse tipo de atleta, o que entende que o treino é um meio, não um troféu, que o treinador enxerga e confia. Porque ele não treina para parecer pronto, ele treina para estar pronto.
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